quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Capítulo 16 - Uma noite que valeu a pena!


Mal Larissa entrou para o espaço nos fundos e quase levou um soco na cara. Dois homens estavam brigando. E feio. Ela correu para a porta da cozinha e foi chamar Leonardo para ajudar a separar a briga dos dois. Quando chegaram lá Ângela já estava lá gritando e implorando para que os dois parassem de brigar. Quando Leonardo chegou, ela foi segurar um enquanto ele tentava puxar o outro para trás para que parassem a briga. 
Larissa simplesmente não sabia o que fazer. Ficou paralisada olhando o que estava acontecendo. Tudo passava em câmera lenta na frente de seus olhos. Os dois não conseguiram nada tentando separar a briga. Os homens estavam furiosos um com o outro, querendo matar um ao outro. Leonardo decidiu desistir antes que eles acabassem feridos. Mas foi tarde. No momento que pensou isso viu Ângela deitada no chão. No mesmo instante largou o homem e foi ver como ela estava. Ajoelhou-se ao lado dela pensando que estivesse desmaiada. Felizmente só tinha levado um soco no rosto que estava sangrando, mas se Deus quisesse não seria nada demais. 
Nessa hora, Lari se tocou do que estava acontecendo e por um segundo pensou que conhecia um dos homens que estava lá brigando. Ficou olhando atentamente para tentar ver o rosto dele de novo. Era ele. Com muito esforço conseguiu com que as palavras saíssem da boca dela.
 - Lucas. Para, por favor, para de brigar. - Quando ouviu seu nome ele parou. Não sabia por que, mas algo naquela voz o fez parar. De quem era aquela voz. A anja. Como ele poderia esquecer-se daquela que sua mãe em seus últimos momentos de vida chamou de "meu anjo". 
O outro homem percebeu que a briga tinha acabado e saiu pelo bar xingando tudo e todos. Lucas se se encostou à parede e sentou-se se se encostando a ela, cruzando os braços em volta dos joelhos. Por alguns segundos que pareciam mais minutos os dois não sabiam o que dizer.
- O que você está fazendo aqui? Por que você sempre aparece nos piores momentos da minha vida? Por que você está aqui? Agora.
- O que eu estou fazendo aqui? Estou trabalhando. As outras perguntas não posso responder. - Ela se lembrava da promessa que tinha feito a ele, de que não falaria mais em Deus até que ele perguntasse. E a resposta das perguntas dele só tinha uma palavra: Deus. - Mas e você? Você sumiu. Não me escreveu, não escutei nada de você desde aquele dia. A sua mãe pediu para eu cuidar de você, ficar de olho em você e aí você some e aí... Aí eu encontro você aqui brigando e...
- Me deixa em paz. não quero falar com você agora. Não preciso de babá pra cuidar de mim.
- Mas...
- Pode voltar a trabalhar, devem estar precisando de você.
- Não sem antes fazer um curativo na sua testa.
- Eu estou bem. - quando falou isso, ele não parecia estar muito convencido disso. Lentamente ela foi andando até ele e se sentou encostada na parede ao lado dele. Ele tinha colocado uma barreira invisível entre eles. Provavelmente fazia isso com todas as pessoas. - Eu estou bem. - ele falou novamente, agora, quase sussurrando. Ela tentou limpar o machucado com um lenço, mas ele afastou a mão dele.
- Por favor, deixa eu te ajudar. Você não precisa falar nada. E eu também não vou falar nada até você queira. Só me deixa limpar isso pra não infeccionar.
Dessa vez quando ela aproximou o braço dela ele abaixou a mão, voltando a cruzar os braços ao redor das pernas dele. Ele não se mexia, não olhava para ela, fingia estar sozinho tentando achar alguma coisa pra dizer, tentando entender a situação. Estava confuso, cansado.
Ela sabia que se alguém fosse começara falar teria que ser ele. Então ela esperou e orou. Leonardo foi conferir se estava tudo bem com eles. Ele viu os dois sentados um do lado do outro e entendeu que ela iria ficar ali mais um tempo, só falou que iria levar Ângela para casa e deu boa noite. Lucas parecia relaxar com o tempo. Na cabeça dele passavam as cenas no hospital. Lembrava dos últimos momentos que teve com a mãe, dos últimos anos que passou com ela. Depois da morte dela, poucas vezes pensou nela. E quando pensava nela, procurava logo algo para fazer para se distrair e muitas vezes ele buscava essa distração na bebida, depois no cigarro e por fim nas drogas. Não chegava a usar tanto para que apagasse, afinal, ele trabalhava. Sim, trabalhava. Não era muita coisa, ajudava o vizinho antigo vizinho dele. Alessandro era advogado. Lucas ajudava o na limpeza do escritório, pesquisava por casos antigos que poderiam ajudar no caso que o chefe estava resolvendo no momento. Também cuidava das contas. Não desde o começo, Alessandro começou a perceber que ele era bom com números e pouco a pouco deixava ele responsável por cada vez mais coisas.
Lucas começou a contar de suas lembranças da mãe. Larissa apenas escutava e fazia um ou outro comentário de vez em quando, ou dava risada com ele quando a história era engraçada. Ele já conversava mais abertamente, sem receios. Lembrou que assim como a mãe dele confiou na Larissa, sem ter falado com ela antes, assim ele também poda confiar nela. E de algum jeito ele se sentia segura, em casa, quando enquanto estava com ela. Por um momento esqueceu-se dos problemas que tinha do pai dele, que ele não via há quatro meses, mas que a imagem dele ficava em sua cabeça quase que 24 horas por dia. A conversa ia bem até que chegaram ao assunto do pai dele. Ele já mudou o tom de voz e ficou tenso. Não demorou muito e ele começou a falar mal dele. Larissa permaneceu calma ao lado dele, o deixou terminar de falar tudo.
- Perdoe ele. – ela falou baixinho quando ele se aquietou de novo.
- O quê? Perdoar ele depois de tudo o que ele fez? Nunca.  Nem se eu quisesse poderia perdoar ele. Não mesmo. Ele matou a minha mãe, acabou com a minha vida, ele não merece perdão.
- Lucas, ele não acabou com a vida da tua mãe. Nem com a tua vida. A tua vida não está acabada. Você é jovem! Tem o que, 23 anos? Você ainda tem a tua vida inteira pela frente!
- Mas ele...
- Espera eu terminar de falar. Você tem que perdoar o seu pai, esquecer o passado. Eu sei, eu sei. É mais fácil falar do que fazer. É difícil sim perdoar alguém que fez o que seu pai fez e também não estou dizendo que você vai conseguir esquecer isso da noite pro dia, nem em uma semana. Mas comece cada dia dizendo que isso não vai te abalar que isso não vai deixar você estragar sua vida ainda mais. Não se torne uma pessoa amarga como o seu pai.
- Eu não estou me tornado parecido com ele. Não posso.
- Mas está. Você não consegue enxergar? O que seu pai fazia quando tinha algo de errado, ou ele queria esquecer-se do resto do mundo, ou de você e da sua mãe?
 - Ele saia pra beber.
- E o que você faz quando algo dá errado ou quando quer esquecer-se do seu pai ou dos seus problemas?
- Eu, eu...
- Você não precisa ficar igual ao seu pai. Lute contra isso, não deixe que isso tome conta do seu dia, dos teus pensamentos e da sua vida. Não se renda a isso, por favor. Tente lutar contra isso. Por amor a sua mãe.
- Eu não sei se consigo. Eu não sei.
- Mas você na quer se tornar uma pessoa como o seu pai, não é?
- É, isso eu não quero mesmo pra mim. Não quero causar tanto sofrimento a outras pessoas como ele o fez.
- Então tente fazer isso. Perdoar ele e esquecer o que ele fez.
- Eu vou tentar.
- Que bom! Posso te pedir mais uma coisa?
- O que?
- Posso te escrever? Se você não quiser, não precisa me responder, não precisa. Apenas me deixe escrever pra você.
- Tudo bem. – Ele passou o endereço da casa do Alessandro e da Vivian, esposa deste. – Eles vão me passar adiante essa carta não importa onde eu esteja.
- Quem são eles?
- Eles eram nossos vizinhos, quando eu ainda morava com minha mãe. Eu trabalho na empresa dele. Eles realmente se preocupam comigo. As vezes até demais!

- Eu tenho que ir agora.
- Sim, acho que também deveria ir. Será que a gente pode se encontrar algum dia de novo?
- Eu não sei. Não sei o que vou fazer daqui pra frente.
- Espero que você mude.
-Eu também. – os dois deram um abraço de despedida – Obrigada por hoje.
- De nada, e vou estar sempre aí quando você precisar.
Ele deu um sorriso, virou as costas e começou a andar. Ele virou mais uma vez, ela sorriu de volta pra ele que ainda estava sorrindo – Meu anjo! – ele ainda disse e foi embora.
Larissa ainda ficou parada pensativa. “É Deus, você realmente fez essa noite valer a pena, e como! Obrigada Paizinho!”

Um comentário:

  1. Muitas vezes parece que Deus não ouve as orações, mas quando Ele mais silencia, é quando mais trabalha.

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