As duas amigas acordaram cedo. O grupo de jovens tinha
combinado de fazer um mutirão para ajudar uma senhora a limpar a casa. Não era
só limpar a casa, também o terreno todo. Eles iriam cortar a grama, pintar a
casa de madeira, plantar flores, construir um canil no canto do terreno para o
cachorro e ainda tinham algumas outras coisas pra fazer. Pontualmente as oito
horas elas estavam na casa de Felipe e Karina, de onde iriam sair. É claro que
nem todos foram tãp pontuais e eles acabaram saindo com 20 minutos de atraso.
Não era muito longe por isso resolveram ir a pé. Assim também seria um poço
mais fácil de levar o carrinho de mão com as ferramentas, pincéis, tintas e
tudo que iriam precisar.
Quando
chegaram lá Dona Amélia veio os receber feliz da vida. Não era sempre que
recebia visitas, ainda mais de um grupo tão grande! Ela mostrou tudo a eles e
Felipe separou as equipes para começarem o trabalho. Ângela, Larissa e Gabriela
ficaram responsáveis por ajeitar a casa por dentro.
Elas
começaram varrendo a casa e passando um pano em tudo. Até que Rafael e Thomas
entraram para ajeitarem algumas coisas. Eles foram para os quartos para reparar
algumas coisas. O trio que estava arrumando a sala enquanto isso já estava
quase pronto. Elas estavam exaustas. Parecia que a casa já não fora feita uma
faxina geral na casa há meses. Larissa disse que poderia terminar o resto sozinha,
já que faltava apenas limpar os sofás.
- Com
licença. Será que posso trocar as lâmpadas aqui? – falou Rafael, esperando com
uma escada e uma cestinha com ferramentas e lâmpadas.
-Claro!
Só tome cuidado para não sujar nada. Isso aqui deu muito trabalho!
- É,
imagino. Você pode me ajudar a empurrar o sofá um pouquinho?
Enquanto
ele trocava a lâmpada, ela começava a limpar o último sofá. Esse parecia
extremamente sujo e empoeirado. Larissa não sabia se era só a imaginação dela,
por causa da exaustão ou se ele realmente estava tão sujo mesmo. Primeiro ela
tirou todas as almofadas e as levou para um canto. Rafael já tinha trocado a
lâmpada parou no meio da escada e por alguma coisa olhava para ela, os dois
olhares se encontraram. De repente o olho dele ficou arregalado.
- O que foi?
- Não e mexa. Ele falou descendo da escada e vindo em
direção a ela. Ele falou com um toma tão autoritário que ela se recusou a
desobedecer. Pelo olhar dele ela percebeu que tinha alguma coisa errada e
começou a ficar com medo. Por que ele tinha falado isso? Será que ele tinha
falado isso por causa de algum bi... Ela olhou em volta e viu uma aranha
andando pelo sofá. Ela tinha pavor de aranhas. Qualquer animal ela podia ver e
talvez até matar. Mas aranhas ela detestava. A aranha sumiu novamente para
dentro do sofá deixando-a aliviada. Ela ia se mexer novamente, mas Rafael falou
para ela não se mexer. Agora sim ela começou a ficar preocupada. Se aquela
aranha não era o problema, o que seria então? Viu o rapaz colocando uma sacola
envolta da mão dele. Ia perguntar o que estava acontecendo quando viu o motivo
disso tudo, ele ou ela estava em cima do ombro direito dela. Era uma aranha,
não muito grande, mas não deixava de ser uma aranha.
- Rafaeeel, socorro. Tira esse negocio daqui. Ajuda-me
já.
- Calma Lari. Se você não se mexer ela não vai fazer
nada.
- Rafael! Tira esse negócio daqui. Vai logo. Ele foi se
aproximando lentamente e em um movimento certeiro tirou ela de lá.
- Pronto Lari! Já passou. – Ela não escutava o que ele
estava falando. Sentiu as pernas tremendo. – Você está bem?
- Eu... – ela quase tombou para o lado. Se não fosse por
ele. Ela a pegou pelos braços e a levou até o sofá limpo. – Eu, eu...
- Calma, não precisa falar nada. Está tudo bem.
Os dois ainda ficaram lá sentados por dois minutos. Ele a
abraçava dizendo que estava tudo bem até que ela se acalmou.
- Desculpa.
- Não precisa pedir desculpas por nada.
- Obrigada. Eu tenho pavor de aranhas. Eu fui picada por
uma há uns sete anos e eu não percebi na hora. Meu braço começou a inflamar.
Quase tiveram que amputar ele.
- É, você tem direito de ter medo de aranhas.
- Obrigada, gentil senhor por me conceder esse direito!
Os dois riram. O susto dela tinha passado. Nem perceberam
que havia mais alguém na sala.
- Muito bem, muito bem! O que vocês estão fazendo aqui?
Eu achei que vocês deveriam estar trabalhando em vez de namorar.
- Vó? PO que você está fazendo aqui?
- Eu perguntei primeiro!
Nós nçao estamos fazendo nada, muito menos namorando. Eu
tinha acabado de trocar a lâmpada e esla estava limpado o sofá. E então uma
aranha subiu no ombro dela. Eu tirei e agora ela estava se acalmando.
- Muito bem Rafinha, que cavalheiro. Aprendeu direitinho!
- Vó! – ele falou para ela meio embaraçoso. É, as avós
tem uma capacidade incrível de nos fazer passar por essas situações
embaraçosas. E mesmo assim continuam sendo as pessoas mais queridas do mundo!
- E você querida? Como é o seu nome? Espere um pouco, eu
acho que sei.- ela seu uma olhada significativa para o neto. E depois para a
jovem que estava sentada na frente dele. -
Larissa! É esse o seu nome. Não é querida?
- É sim. Mas com a senhora sabia?
- Alguém vive falando de você pra mim! Eu já estava
curiosa para te conhecer.
- Ah, é? Espero que não tenha escutado nada mal de mim!
- Claro que não! Só o melhor, na verdade nunca escutei
ele falar tão bem de alguém pra mim com o falou de você!
Agora de vez que ele estava embaraçado!
- Vó, já deu né! – ela deu uma risadinha agradável e saiu
em direção a porta. Quando passou por Larissa ela sussurrou no ouvido dela pra
que ele não escutasse:
- Ele não fica bonitinho assim, toso envergonhado? Ele
até corou!- as duas olharam para ele e começaram a rir. Rafael não entendendo
nada corou ainda mais!
- Concordo com a senhora!
- Senhora não, me chame de Beth. E você – ela disse
olhando para o “netinho” – trate de trabalhar!
Rafael até se esqueceu de perguntar o que Lea estava
fazendo lá. Na verdade, ela ia morar lá. Ele não sabia disso ainda. Ela não
queria mais morar na casa da filha e ela gostou da D. Amélia. As duas viviam
fofocando e tomando chas juntas! E chegou uma hora em que as duas resolveram
morar juntas. Assim ela poderia fugir um pouco da família e D. Amélia teria um
pouco de ajuda em casa, já que ela não era a pessoa mais jovem. Na verdade já
tinha 81 anos, mas ainda vivia como se tivesse 60.
Rafael ajudou Larissa a terminar de arrumas o sofá.
Depois de a sala estar toda arrumada os dois perguntaram a Karina se precisavam
de ajuda em mais alguma coisa. Ela disse que se quisessem poderiam ajudas as
duas senhoras a terminar de fazer o almoço. Foi quando Rafael descobriu por que
a sua avó estava lá. Não falou muita coisa desde então. Parecia meio no mundo
da lua. Logo depois do almoço voltaram ao trabalho. Agora, Larissa, Gabriela e
Ângela foram escaladas para arrumar e ajeitar o canteiro. Começaram a revirar a
terra, jogaram adubo em cima e enquanto isso Mark e Jorge trouxeram as flores
que tinham comprado no dia anterior.
Depois de duas horas finalmente terminaram. Ficou lindo!
Plantaram as rosas ao longo da cerca recém pintada de branco, plantam lírios,
amor-perfeito e margaridas. Sobraram dois lírios ainda e Larissa resolveu
perguntar pra D. Amélia onde poderia colocá-los. No caminho cruzou com Beth.
- Onde você quer colocar essas flores?
- Eu estava justamente indo perguntar isso para D.
Amélia.
- Nem precisa. Eu já sei. Tenho uns vasos que ainda estão
vazios desde que mudamos para cá. Peça ao Rafael que vá com você pegá-los lá em
casa. Ele pode te ajudar a escolher.
- Mas tenho que ficar aqui até terminarmos tudo.
- Não se preocupe, eu falo com Karina, vai lá.
- Tá, obrigada.
Ela foi chamar Rafael. Ele e o grupo já estavam quase
terminando o canil. Felipe o liberou e os dois foram caminhando até a casa
dele.
- Você me parece que está meio “fora do ar”, está tudo
bem?
- Sim, só estou um pouco cansado do trabalho todo.
- Tem certeza?
- Sim! – na verdade não estava tudo bem. Mas ele se
assustou com a pergunta. Ela foi bem direta, como se adivinhasse no que estava
pensando, que ele estava preocupado. Resolveu falar, afinal com alguém tinha
que falar e ele sabia que podia confiar na Larissa.
- A situação lá em casa não está lá muito boa. Desde que
nos mudamos para Curitiba, minha avó parece que está agindo meio estranho.
Parece que ela se fechou um pouco lá em casa. Quando a gente ia pra casa dela,
ela era sempre tão alegre, nos recebia bem, nos divertíamos muito. Agora ela
fica resmungando por aí, critica minha mãe e minha mãe também critica ela. Eu
não sei por que ela quis sair de casa. A gente achou que seria mais fácil para
ela se recuperar da cirurgia e do tratamento contra a catarata no olho dela se
estivéssemos morando com ela para auxiliá-la.
- Ela já morou com vocês antes?
- Não. Ela morava perto de casa, mas não morou com a
gente.
- Então pode ser que ela se sinta desconfortável na sua
casa. Pode ser que ela não goste de voltar a essa época da vida. Sabe, ela já
passou da fase de educar filhos, levá-los de um lado para outro, ter essa
agitação e correria dentro de casa.
- Mas ela vinha bastante lá em casa, também ficava com a
gente quando a minha mãe saía.
- Tá, mas isso eram algumas horas. Ela não entrava na
rotina de vocês não precisava educar vocês. Isso é tarefa dos teus pais e se
ela está lá, fica difícil intervir. Ela se sente presa e dependente, eu acho
que ela não gosta muito disso. Ela precisa viver a vida dela.
- É, pode ser. Mas ela poderia ter conversado com a gente
antes.
- Talvez ela achou que vocês iriam impedir ela de sair,
convencer ela a ficar. Ela não quer magoar vocês, mas também não quer ficar na
casa em que vocês estão.
- Eu não tinha pensado nisso. É, pode ser difícil mesmo
para ela viver no meio da nossa correria.
- Deixem ela ir. Ela vai se sentir mais a vontade. E não
se preocupe ela não vai abandonar vocês e provavelmente o relacionamento entre
vocês vai até melhorar.
- Obrigado!
- Pelo quê?
- Por me escutar e me entender.
-De nada. É bom escutar de vez em quando.
Já estavam quase chegando a casa dele. O resto do caminho
percorreram calados. Chegando lá, Rafael teve que procurar esses vasos
primeiro.
- São lindos! – disse Larissa olhando para eles. Havia
uns 15 vasos lá. De todas as formas e tamanhos. – Eu não sei qual escolher. É
um mais lindo que o outro. Amei esse daqui.
Ela pegou um vaso tamanho médio de cerâmica na mão. O
fundo era azul antigo e por cima havia pequenas orquídeas em relevo, pintadas
delicadamente e branco e rosa. O vaso ainda tinha detalhes em dourado.
- Quer levar esse?
- Eu acho que não. Não combina muito com a pintura da
casa e com os lírios amarelos.
- Que tal esses dois? – ele apontou para dois vasos
marrom amarelo pintado com craquelê.
- Perfeito! Não sabia que você tem bom gosto!
- Culpa da minha vó!