quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Capítulo 18 - Mutirão (parte 1)


As duas amigas acordaram cedo. O grupo de jovens tinha combinado de fazer um mutirão para ajudar uma senhora a limpar a casa. Não era só limpar a casa, também o terreno todo. Eles iriam cortar a grama, pintar a casa de madeira, plantar flores, construir um canil no canto do terreno para o cachorro e ainda tinham algumas outras coisas pra fazer. Pontualmente as oito horas elas estavam na casa de Felipe e Karina, de onde iriam sair. É claro que nem todos foram tãp pontuais e eles acabaram saindo com 20 minutos de atraso. Não era muito longe por isso resolveram ir a pé. Assim também seria um poço mais fácil de levar o carrinho de mão com as ferramentas, pincéis, tintas e tudo que iriam precisar.
            Quando chegaram lá Dona Amélia veio os receber feliz da vida. Não era sempre que recebia visitas, ainda mais de um grupo tão grande! Ela mostrou tudo a eles e Felipe separou as equipes para começarem o trabalho. Ângela, Larissa e Gabriela ficaram responsáveis por ajeitar a casa por dentro.
            Elas começaram varrendo a casa e passando um pano em tudo. Até que Rafael e Thomas entraram para ajeitarem algumas coisas. Eles foram para os quartos para reparar algumas coisas. O trio que estava arrumando a sala enquanto isso já estava quase pronto. Elas estavam exaustas. Parecia que a casa já não fora feita uma faxina geral na casa há meses. Larissa disse que poderia terminar o resto sozinha, já que faltava apenas limpar os sofás.  
            - Com licença. Será que posso trocar as lâmpadas aqui? – falou Rafael, esperando com uma escada e uma cestinha com ferramentas e lâmpadas.
            -Claro! Só tome cuidado para não sujar nada. Isso aqui deu muito trabalho!
            - É, imagino. Você pode me ajudar a empurrar o sofá um pouquinho?
            Enquanto ele trocava a lâmpada, ela começava a limpar o último sofá. Esse parecia extremamente sujo e empoeirado. Larissa não sabia se era só a imaginação dela, por causa da exaustão ou se ele realmente estava tão sujo mesmo. Primeiro ela tirou todas as almofadas e as levou para um canto. Rafael já tinha trocado a lâmpada parou no meio da escada e por alguma coisa olhava para ela, os dois olhares se encontraram. De repente o olho dele ficou arregalado.
            - O que foi?
- Não e mexa. Ele falou descendo da escada e vindo em direção a ela. Ele falou com um toma tão autoritário que ela se recusou a desobedecer. Pelo olhar dele ela percebeu que tinha alguma coisa errada e começou a ficar com medo. Por que ele tinha falado isso? Será que ele tinha falado isso por causa de algum bi... Ela olhou em volta e viu uma aranha andando pelo sofá. Ela tinha pavor de aranhas. Qualquer animal ela podia ver e talvez até matar. Mas aranhas ela detestava. A aranha sumiu novamente para dentro do sofá deixando-a aliviada. Ela ia se mexer novamente, mas Rafael falou para ela não se mexer. Agora sim ela começou a ficar preocupada. Se aquela aranha não era o problema, o que seria então? Viu o rapaz colocando uma sacola envolta da mão dele. Ia perguntar o que estava acontecendo quando viu o motivo disso tudo, ele ou ela estava em cima do ombro direito dela. Era uma aranha, não muito grande, mas não deixava de ser uma aranha.
- Rafaeeel, socorro. Tira esse negocio daqui. Ajuda-me já.
- Calma Lari. Se você não se mexer ela não vai fazer nada.
- Rafael! Tira esse negócio daqui. Vai logo. Ele foi se aproximando lentamente e em um movimento certeiro tirou ela de lá.
- Pronto Lari! Já passou. – Ela não escutava o que ele estava falando. Sentiu as pernas tremendo. – Você está bem?
- Eu... – ela quase tombou para o lado. Se não fosse por ele. Ela a pegou pelos braços e a levou até o sofá limpo. – Eu, eu...
- Calma, não precisa falar nada. Está tudo bem.
Os dois ainda ficaram lá sentados por dois minutos. Ele a abraçava dizendo que estava tudo bem até que ela se acalmou.
- Desculpa.
- Não precisa pedir desculpas por nada.
- Obrigada. Eu tenho pavor de aranhas. Eu fui picada por uma há uns sete anos e eu não percebi na hora. Meu braço começou a inflamar. Quase tiveram que amputar ele.
- É, você tem direito de ter medo de aranhas.
- Obrigada, gentil senhor por me conceder esse direito!
Os dois riram. O susto dela tinha passado. Nem perceberam que havia mais alguém na sala.
- Muito bem, muito bem! O que vocês estão fazendo aqui? Eu achei que vocês deveriam estar trabalhando em vez de namorar.
- Vó? PO que você está fazendo aqui?
- Eu perguntei primeiro!
Nós nçao estamos fazendo nada, muito menos namorando. Eu tinha acabado de trocar a lâmpada e esla estava limpado o sofá. E então uma aranha subiu no ombro dela. Eu tirei e agora ela estava se acalmando.
- Muito bem Rafinha, que cavalheiro. Aprendeu direitinho!
- Vó! – ele falou para ela meio embaraçoso. É, as avós tem uma capacidade incrível de nos fazer passar por essas situações embaraçosas. E mesmo assim continuam sendo as pessoas mais queridas do mundo!
- E você querida? Como é o seu nome? Espere um pouco, eu acho que sei.- ela seu uma olhada significativa para o neto. E depois para a jovem que estava sentada na frente dele. -  Larissa! É esse o seu nome. Não é querida?
- É sim. Mas com a senhora sabia?
- Alguém vive falando de você pra mim! Eu já estava curiosa para te conhecer.
- Ah, é? Espero que não tenha escutado nada mal de mim!
- Claro que não! Só o melhor, na verdade nunca escutei ele falar tão bem de alguém pra mim com o falou de você!
Agora de vez que ele estava embaraçado!
- Vó, já deu né! – ela deu uma risadinha agradável e saiu em direção a porta. Quando passou por Larissa ela sussurrou no ouvido dela pra que ele não escutasse:
- Ele não fica bonitinho assim, toso envergonhado? Ele até corou!- as duas olharam para ele e começaram a rir. Rafael não entendendo nada corou ainda mais!
- Concordo com a senhora!
- Senhora não, me chame de Beth. E você – ela disse olhando para o “netinho” – trate de trabalhar!
Rafael até se esqueceu de perguntar o que Lea estava fazendo lá. Na verdade, ela ia morar lá. Ele não sabia disso ainda. Ela não queria mais morar na casa da filha e ela gostou da D. Amélia. As duas viviam fofocando e tomando chas juntas! E chegou uma hora em que as duas resolveram morar juntas. Assim ela poderia fugir um pouco da família e D. Amélia teria um pouco de ajuda em casa, já que ela não era a pessoa mais jovem. Na verdade já tinha 81 anos, mas ainda vivia como se tivesse 60.
Rafael ajudou Larissa a terminar de arrumas o sofá. Depois de a sala estar toda arrumada os dois perguntaram a Karina se precisavam de ajuda em mais alguma coisa. Ela disse que se quisessem poderiam ajudas as duas senhoras a terminar de fazer o almoço. Foi quando Rafael descobriu por que a sua avó estava lá. Não falou muita coisa desde então. Parecia meio no mundo da lua. Logo depois do almoço voltaram ao trabalho. Agora, Larissa, Gabriela e Ângela foram escaladas para arrumar e ajeitar o canteiro. Começaram a revirar a terra, jogaram adubo em cima e enquanto isso Mark e Jorge trouxeram as flores que tinham comprado no dia anterior.
Depois de duas horas finalmente terminaram. Ficou lindo! Plantaram as rosas ao longo da cerca recém pintada de branco, plantam lírios, amor-perfeito e margaridas. Sobraram dois lírios ainda e Larissa resolveu perguntar pra D. Amélia onde poderia colocá-los. No caminho cruzou com Beth.
- Onde você quer colocar essas flores?
- Eu estava justamente indo perguntar isso para D. Amélia.
- Nem precisa. Eu já sei. Tenho uns vasos que ainda estão vazios desde que mudamos para cá. Peça ao Rafael que vá com você pegá-los lá em casa. Ele pode te ajudar a escolher.
- Mas tenho que ficar aqui até terminarmos tudo.
- Não se preocupe, eu falo com Karina, vai lá.
- Tá, obrigada.
Ela foi chamar Rafael. Ele e o grupo já estavam quase terminando o canil. Felipe o liberou e os dois foram caminhando até a casa dele.
- Você me parece que está meio “fora do ar”, está tudo bem?
- Sim, só estou um pouco cansado do trabalho todo.
- Tem certeza?
- Sim! – na verdade não estava tudo bem. Mas ele se assustou com a pergunta. Ela foi bem direta, como se adivinhasse no que estava pensando, que ele estava preocupado. Resolveu falar, afinal com alguém tinha que falar e ele sabia que podia confiar na Larissa.
- A situação lá em casa não está lá muito boa. Desde que nos mudamos para Curitiba, minha avó parece que está agindo meio estranho. Parece que ela se fechou um pouco lá em casa. Quando a gente ia pra casa dela, ela era sempre tão alegre, nos recebia bem, nos divertíamos muito. Agora ela fica resmungando por aí, critica minha mãe e minha mãe também critica ela. Eu não sei por que ela quis sair de casa. A gente achou que seria mais fácil para ela se recuperar da cirurgia e do tratamento contra a catarata no olho dela se estivéssemos morando com ela para auxiliá-la.
- Ela já morou com vocês antes?
- Não. Ela morava perto de casa, mas não morou com a gente.
- Então pode ser que ela se sinta desconfortável na sua casa. Pode ser que ela não goste de voltar a essa época da vida. Sabe, ela já passou da fase de educar filhos, levá-los de um lado para outro, ter essa agitação e correria dentro de casa.
- Mas ela vinha bastante lá em casa, também ficava com a gente quando a minha mãe saía.
- Tá, mas isso eram algumas horas. Ela não entrava na rotina de vocês não precisava educar vocês. Isso é tarefa dos teus pais e se ela está lá, fica difícil intervir. Ela se sente presa e dependente, eu acho que ela não gosta muito disso. Ela precisa viver a vida dela.
- É, pode ser. Mas ela poderia ter conversado com a gente antes.
- Talvez ela achou que vocês iriam impedir ela de sair, convencer ela a ficar. Ela não quer magoar vocês, mas também não quer ficar na casa em que vocês estão.
- Eu não tinha pensado nisso. É, pode ser difícil mesmo para ela viver no meio da nossa correria.
- Deixem ela ir. Ela vai se sentir mais a vontade. E não se preocupe ela não vai abandonar vocês e provavelmente o relacionamento entre vocês vai até melhorar.
- Obrigado!
- Pelo quê?
- Por me escutar e me entender.
-De nada. É bom escutar de vez em quando.
Já estavam quase chegando a casa dele. O resto do caminho percorreram calados. Chegando lá, Rafael teve que procurar esses vasos primeiro.
- São lindos! – disse Larissa olhando para eles. Havia uns 15 vasos lá. De todas as formas e tamanhos. – Eu não sei qual escolher. É um mais lindo que o outro. Amei esse daqui.
Ela pegou um vaso tamanho médio de cerâmica na mão. O fundo era azul antigo e por cima havia pequenas orquídeas em relevo, pintadas delicadamente e branco e rosa. O vaso ainda tinha detalhes em dourado.
- Quer levar esse?
- Eu acho que não. Não combina muito com a pintura da casa e com os lírios amarelos.
- Que tal esses dois? – ele apontou para dois vasos marrom amarelo pintado com craquelê.
- Perfeito! Não sabia que você tem bom gosto!
- Culpa da minha vó!

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Capítulo 17 - Café e conversas


Larissa não conseguia dormir, algumas coisas passavam pela cabeça dela. Ela tinha recebido uma carta da mãe. Ela resolveu levantar e fazer um café. Não era uma ideia muito boa já que queria dormir, mas não sabia mais o que fazer. É, talvez esperasse Gabriela voltar do restaurante. Precisava de alguém para conversar. Só esperava que Gabi também o quisesse, mas sabia que a amiga, mesmo morrendo de sono iria se esforçar para ouvir o que ela tinha a dizer. Ela preparou o café e pegou um pacote de bolachas, quando ia levar isso para sala Gabi chegou.
- Oi! – Lari já estava com as duas xícaras na mão e ofereceu uma para Gabi.
- Obrigada, estou mesmo precisando disso.
- Eu não estava com muito sono e resolvi fazer um café e te esperar para conversarmos um pouco. Se você quiser, é claro.
- Sim, na verdade eu também precisava conversar com você. Só vou deixar as minhas coisas no quarto, já venho.
As duas se sentaram no sofá. Larissa deixou Gabriela falar primeiro, ela estava com uma cara meio preocupada e sei lá, com o se algo marcante tivesse aconteci com ela.
- Bem, hoje quando eu estava a caminho do restaurante, eu não estava muito legal, não estava muito a fim de ir. Aí eu pedi para Deus que fizesse a noite valer a pena.
- E deixa-me adivinhar, ele fez algo esplêndido.
- Sim, na verdade duas pessoas vieram ao restaurante hoje. Bem na verdade uma não veio exatamente ao restaurante, mas ela estava lá nos fundos... – ela contou toda a história que aconteceu com Lucas.
- Uau. Isso foi maravilhoso! Há tanto tempo você já estava esperando alguma novidade dele. E de repente você o encontra lá!
- É, mas eu não sei... Ele estava tão mal. Bebendo e brigando. Parece que o que eu falei para ele da última vez entrou por um ouvido e saiu pelo outro. Ele está pior do que antes. Ele está se destruindo, não percebe que está seguindo para o mesmo caminho do pai, o caminho que ele tanto odeia.
- Você falou isso para ele?
- Falei, mas eu não sei o que ele vai fazer com isso. É como da última vez: eu falei com ele, tirei as duvidas dele, pelo menos as que eu sabia a resposta, expliquei Deus para ele e veja o que aconteceu. Ele não escutou nada, hoje ele estava horrível. É como se eu tivesse falhado.
- Gabriela, escuta aqui. Você não falhou em nada. Eu tenho certeza de que você deixou Deus te usar. Você está plantando uma semente. Algumas sementes demoram a germinar, e isso você não tem capacidade para fazer. Só Deus consegue fazer isso. Você está fazendo a sua parte. Eu sei que você está fazendo tudo que você pode para ajudar ele. O resto é com ele e Deus. A única coisa que podemos fazer é orar. Orar bastante e deixar tudo nas mãos de Deus.
- Na verdade, ainda tem uma coisa que eu posso fazer. – Gabriela deu sorriso discreto e Larissa estava curiosa com o que isso seria. – Eu peguei o endereço dele!
- Que maravilha! Você já não tinha tentado escrever cartas?
- Sim, mas eu dei o meu endereço e fiquei esperando uma carta que nunca veio.
 - E agora ele deu o endereço dele pra você?
- Na verdade o endereço do patrão dele, que era um antigo vizinho. Eu acho que ele deve estar tentando ajudar ele.
- Que bom que ele não está sozinho!
- É, mas eu não sei o quanto ele deixa eles intervirem na vida pessoal dele.
 - Bem, devagarzinho você vai conquistando a confiança dele e aí tudo pode ficar melhor. Entrega tudo a Deus. E quem sabe você não acaba conquistando o coração dele também? – ela falou isso com um sorriso no rosto meio que zombando dela.
- Ah, que é isso. Ele não tem espaço lá. Por quê? Ele já está ocupado?
- Bem...
- Ahhhhhh, me conta logo!
- Sabe que eu falei de duas pessoas que entraram no restaurante?
- Siiiim....
- O Alex estava lá.
- O Alex? Aquele moleque do retiro?
- Ele mesmo.
- Mas e então? Vocês conversaram alguma coisa?
- Ele me chamou para dar uma volta. Ele queria me agradecer pelo que eu fiz por ele no retiro. E depois ele me deu uma flor!
- Ai que liiiindo! Que flor que era, cadê ela?
- Era um girassol! Dos mais bonitos que eu já vi e ele está... – nesse momento ela lembrou que na hora da briga esqueceu-se de tudo, ele deve ter caído no chão e ela não o viu mais depois. Ficou com raiva de si mesma. Pretendia guardar ele junto com a semente que tinha ganhado do Alex também, que por acaso ela também não sabia onde tinha deixado. – Eu perdi ele, ai como eu sou uma tonta mesmo. Como eu pude perder um girassol?
- É amiga, você é incrível! Mas e aí sobre o que vocês conversaram?
- Sobre várias coisas. A faculdade, comida, música, de tudo um pouco. Na verdade até que temos os gostos parecidos... 0 depois de falar isso ela meio que entrou no mundo da lua, relembrando a conversa que tivera com ele. Foi tão agradável!
- Eu acho que alguém tá se apaixonando!
- Não! Sim! Ah, eu não sei. Foi muito bom ver ele de novo e pra falar a verdade ele tava lindo! Bem melhor do que no retiro! Mas me apaixonando, não sei.
- Ahã, sei, sei! E quando vocês vão se ver de novo?
- Não sei, a gente não combinou nada.
- Será que ele vai vir pro grupo de jovens de novo?
- Eu não sei, acho que não. Ele disse que está freqüentando outra igreja perto da casa dele.
- A família dele também vai?
- Sim, ele disse que pouco a pouco todos foram indo pra igreja. Que bom!
- Foi bom poder conversar com você sobre isso. Não sei se ia conseguir dormir pensando na noite de hoje!
- Você sabe que pode contar comigo a qualquer hora!
- Sim eu sei e você também sabe que vou estar aí pra você quando quer que seja.
- Sim, mas e você? Não tinha alguma coisa pra conversar também?
- Nada tão importante. Podemos conversar outra hora. –Ela disse levantando-se e pegando a xícara vazia da amiga. – Já está tarde e amanhã temos que acordar cedo para ir ao multirão. Melhor estarmos descansadas!
- Então tá, se você acha. Mas as xícaras pode deixar que eu lavo.
- Vamos fazer uma oração ainda: Senhor Deus, Pai querido, obrigada pela nossa amizade. Obrigada por que podemos estar juntas aqui. Guarde nossas famílias lá no Mato Grosso do Sul e também a nós aqui. Quero te pedir também pelo Lucas, você sabe o que está se passando destro dele. Guarda-o do perigo e leva-o pelo caminho certo. Peço também que de as palavras certas a Gabi quando ela falar com ele ou escrever para ele. Oriente também o coração dela em relação ao Alex. Dê no, por favor, uma boa noite de sono. Amém
- Amém. – as duas se abraçaram e Larissa foi indo em direção ao quarto dela. Os pensamentos ainda voltavam para aquela carta da sua mãe, mas agora já estava cansada o suficiente para conseguir dormir.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Capítulo 16 - Uma noite que valeu a pena!


Mal Larissa entrou para o espaço nos fundos e quase levou um soco na cara. Dois homens estavam brigando. E feio. Ela correu para a porta da cozinha e foi chamar Leonardo para ajudar a separar a briga dos dois. Quando chegaram lá Ângela já estava lá gritando e implorando para que os dois parassem de brigar. Quando Leonardo chegou, ela foi segurar um enquanto ele tentava puxar o outro para trás para que parassem a briga. 
Larissa simplesmente não sabia o que fazer. Ficou paralisada olhando o que estava acontecendo. Tudo passava em câmera lenta na frente de seus olhos. Os dois não conseguiram nada tentando separar a briga. Os homens estavam furiosos um com o outro, querendo matar um ao outro. Leonardo decidiu desistir antes que eles acabassem feridos. Mas foi tarde. No momento que pensou isso viu Ângela deitada no chão. No mesmo instante largou o homem e foi ver como ela estava. Ajoelhou-se ao lado dela pensando que estivesse desmaiada. Felizmente só tinha levado um soco no rosto que estava sangrando, mas se Deus quisesse não seria nada demais. 
Nessa hora, Lari se tocou do que estava acontecendo e por um segundo pensou que conhecia um dos homens que estava lá brigando. Ficou olhando atentamente para tentar ver o rosto dele de novo. Era ele. Com muito esforço conseguiu com que as palavras saíssem da boca dela.
 - Lucas. Para, por favor, para de brigar. - Quando ouviu seu nome ele parou. Não sabia por que, mas algo naquela voz o fez parar. De quem era aquela voz. A anja. Como ele poderia esquecer-se daquela que sua mãe em seus últimos momentos de vida chamou de "meu anjo". 
O outro homem percebeu que a briga tinha acabado e saiu pelo bar xingando tudo e todos. Lucas se se encostou à parede e sentou-se se se encostando a ela, cruzando os braços em volta dos joelhos. Por alguns segundos que pareciam mais minutos os dois não sabiam o que dizer.
- O que você está fazendo aqui? Por que você sempre aparece nos piores momentos da minha vida? Por que você está aqui? Agora.
- O que eu estou fazendo aqui? Estou trabalhando. As outras perguntas não posso responder. - Ela se lembrava da promessa que tinha feito a ele, de que não falaria mais em Deus até que ele perguntasse. E a resposta das perguntas dele só tinha uma palavra: Deus. - Mas e você? Você sumiu. Não me escreveu, não escutei nada de você desde aquele dia. A sua mãe pediu para eu cuidar de você, ficar de olho em você e aí você some e aí... Aí eu encontro você aqui brigando e...
- Me deixa em paz. não quero falar com você agora. Não preciso de babá pra cuidar de mim.
- Mas...
- Pode voltar a trabalhar, devem estar precisando de você.
- Não sem antes fazer um curativo na sua testa.
- Eu estou bem. - quando falou isso, ele não parecia estar muito convencido disso. Lentamente ela foi andando até ele e se sentou encostada na parede ao lado dele. Ele tinha colocado uma barreira invisível entre eles. Provavelmente fazia isso com todas as pessoas. - Eu estou bem. - ele falou novamente, agora, quase sussurrando. Ela tentou limpar o machucado com um lenço, mas ele afastou a mão dele.
- Por favor, deixa eu te ajudar. Você não precisa falar nada. E eu também não vou falar nada até você queira. Só me deixa limpar isso pra não infeccionar.
Dessa vez quando ela aproximou o braço dela ele abaixou a mão, voltando a cruzar os braços ao redor das pernas dele. Ele não se mexia, não olhava para ela, fingia estar sozinho tentando achar alguma coisa pra dizer, tentando entender a situação. Estava confuso, cansado.
Ela sabia que se alguém fosse começara falar teria que ser ele. Então ela esperou e orou. Leonardo foi conferir se estava tudo bem com eles. Ele viu os dois sentados um do lado do outro e entendeu que ela iria ficar ali mais um tempo, só falou que iria levar Ângela para casa e deu boa noite. Lucas parecia relaxar com o tempo. Na cabeça dele passavam as cenas no hospital. Lembrava dos últimos momentos que teve com a mãe, dos últimos anos que passou com ela. Depois da morte dela, poucas vezes pensou nela. E quando pensava nela, procurava logo algo para fazer para se distrair e muitas vezes ele buscava essa distração na bebida, depois no cigarro e por fim nas drogas. Não chegava a usar tanto para que apagasse, afinal, ele trabalhava. Sim, trabalhava. Não era muita coisa, ajudava o vizinho antigo vizinho dele. Alessandro era advogado. Lucas ajudava o na limpeza do escritório, pesquisava por casos antigos que poderiam ajudar no caso que o chefe estava resolvendo no momento. Também cuidava das contas. Não desde o começo, Alessandro começou a perceber que ele era bom com números e pouco a pouco deixava ele responsável por cada vez mais coisas.
Lucas começou a contar de suas lembranças da mãe. Larissa apenas escutava e fazia um ou outro comentário de vez em quando, ou dava risada com ele quando a história era engraçada. Ele já conversava mais abertamente, sem receios. Lembrou que assim como a mãe dele confiou na Larissa, sem ter falado com ela antes, assim ele também poda confiar nela. E de algum jeito ele se sentia segura, em casa, quando enquanto estava com ela. Por um momento esqueceu-se dos problemas que tinha do pai dele, que ele não via há quatro meses, mas que a imagem dele ficava em sua cabeça quase que 24 horas por dia. A conversa ia bem até que chegaram ao assunto do pai dele. Ele já mudou o tom de voz e ficou tenso. Não demorou muito e ele começou a falar mal dele. Larissa permaneceu calma ao lado dele, o deixou terminar de falar tudo.
- Perdoe ele. – ela falou baixinho quando ele se aquietou de novo.
- O quê? Perdoar ele depois de tudo o que ele fez? Nunca.  Nem se eu quisesse poderia perdoar ele. Não mesmo. Ele matou a minha mãe, acabou com a minha vida, ele não merece perdão.
- Lucas, ele não acabou com a vida da tua mãe. Nem com a tua vida. A tua vida não está acabada. Você é jovem! Tem o que, 23 anos? Você ainda tem a tua vida inteira pela frente!
- Mas ele...
- Espera eu terminar de falar. Você tem que perdoar o seu pai, esquecer o passado. Eu sei, eu sei. É mais fácil falar do que fazer. É difícil sim perdoar alguém que fez o que seu pai fez e também não estou dizendo que você vai conseguir esquecer isso da noite pro dia, nem em uma semana. Mas comece cada dia dizendo que isso não vai te abalar que isso não vai deixar você estragar sua vida ainda mais. Não se torne uma pessoa amarga como o seu pai.
- Eu não estou me tornado parecido com ele. Não posso.
- Mas está. Você não consegue enxergar? O que seu pai fazia quando tinha algo de errado, ou ele queria esquecer-se do resto do mundo, ou de você e da sua mãe?
 - Ele saia pra beber.
- E o que você faz quando algo dá errado ou quando quer esquecer-se do seu pai ou dos seus problemas?
- Eu, eu...
- Você não precisa ficar igual ao seu pai. Lute contra isso, não deixe que isso tome conta do seu dia, dos teus pensamentos e da sua vida. Não se renda a isso, por favor. Tente lutar contra isso. Por amor a sua mãe.
- Eu não sei se consigo. Eu não sei.
- Mas você na quer se tornar uma pessoa como o seu pai, não é?
- É, isso eu não quero mesmo pra mim. Não quero causar tanto sofrimento a outras pessoas como ele o fez.
- Então tente fazer isso. Perdoar ele e esquecer o que ele fez.
- Eu vou tentar.
- Que bom! Posso te pedir mais uma coisa?
- O que?
- Posso te escrever? Se você não quiser, não precisa me responder, não precisa. Apenas me deixe escrever pra você.
- Tudo bem. – Ele passou o endereço da casa do Alessandro e da Vivian, esposa deste. – Eles vão me passar adiante essa carta não importa onde eu esteja.
- Quem são eles?
- Eles eram nossos vizinhos, quando eu ainda morava com minha mãe. Eu trabalho na empresa dele. Eles realmente se preocupam comigo. As vezes até demais!

- Eu tenho que ir agora.
- Sim, acho que também deveria ir. Será que a gente pode se encontrar algum dia de novo?
- Eu não sei. Não sei o que vou fazer daqui pra frente.
- Espero que você mude.
-Eu também. – os dois deram um abraço de despedida – Obrigada por hoje.
- De nada, e vou estar sempre aí quando você precisar.
Ele deu um sorriso, virou as costas e começou a andar. Ele virou mais uma vez, ela sorriu de volta pra ele que ainda estava sorrindo – Meu anjo! – ele ainda disse e foi embora.
Larissa ainda ficou parada pensativa. “É Deus, você realmente fez essa noite valer a pena, e como! Obrigada Paizinho!”